Em tempos de Covid um dos temas mais falados é sobre a necessidade de resiliência.

Entendo que, realmente nesta fase tão conturbada do ponto de vista psicológico, haja a necessidade de avaliar os nossos sentimentos e de oferecer um conforto à nossa mente, nos resignando e nos adaptando à nova realidade, visto que não há o que se fazer a não ser aceitar a situação e passar por ela da forma menos penosa possível.

Eu sempre vi o exemplo do elástico, que retorna ao estado inicial após ser esticado ao máximo, exemplificando o que é resiliência, como uma analogia falha. Na verdade, o elástico quando sofre uma grande força de distensão, principalmente por muito tempo, ou arrebenta, ou quando a pressão distensora cede, o elástico não retorna para o mesmo formato anterior e em alguns casos chega a ficar inutilizado.

O neuropsicólogo Boris Cyrulnik, criador do conceito da resiliência, diz que esta capacidade é desenvolvida ao longo da vida, principalmente na infância e adolescência. Sim, a resiliência é alimentada por valências positivas em situações difíceis ao longo da vida, e envolve várias estruturas e funções do nosso encéfalo.

Duas delas são funções executivas: a flexibilidade cognitiva, que nos permite encontrar soluções conectando várias áreas, criando uma rede de informações, e o controle inibitório, responsável por controlar nossos impulsos, empurrados para o nosso córtex pré-frontal pelo sistema emocional. É como quando falamos coisas que depois nos arrependemos, sabe? E então você pensa: não deveria ter agido assim ou assado! Ou falado isto ou aquilo!

Este é o controle inibitório, que em conjunto com a sua flexibilidade cognitiva, faz com que você use as palavras certas para expor sua opinião, muitas vezes utilizando-se de sua memória de trabalho para a afirmar um fato recente.

E como nosso córtex pré-frontal só se forma completamente por volta dos 20 anos, até esta idade é bem mais difícil você entender e positivar uma situação negativa.

Sem falar que estamos focando momentos em que a nossa mente vê situações de risco, de estresse, raiva ou tristeza, que ativam nosso sistema HPA, liberando cortisol, adrenalina e noradrenalina, quando precisamos que nossa amigdala examine a situação e nos transmita uma avaliação positiva para que o nosso córtex frontal nos coloque na posição de “resiliência”. Isto é realmente de um controle mental fantástico!

Não vou aprofundar este ponto, pois aqui quero apenas focar na analogia do elástico e o que realmente nossa mente elabora ao longo destas experiências.

Todas estas impressões acumuladas criam registros, como cicatrizes, que se codificadas de forma positiva, demonstram que você encontrou uma solução de forma racional e que isto irá te ajudar por toda a vida a encarar situações difíceis.

Assim, acredito que a resiliência só é benéfica quando leva ao crescimento e aprendizado que você poderá utilizar posteriormente ou mesmo na situação em si, caso contrário será somente sofrimento, e sendo assim não acrescentará nada, além de não ser nada saudável.

Por estes motivos, vejo que talvez uma forma mais adequada para se falar deste processo seja identificá-lo como “Plasticidade Emocional”, análoga a plasticidade neural, que são redes de cicatrizes que nos alertam, nos colocando em uma posição de resiliência. Isto nada mais é do que a construção da nossa inteligência emocional.

Acredito que, o que todos estamos passando, uns com maiores dificuldades que os outros, mas, todos imparcialmente sofrendo de alguma maneira, é uma oportunidade de expandir nossa capacidade emocional. Ninguém será o mesmo quando tudo passar, e isto é que é rico, mesmo com toda resiliência do mundo, nada será como antes.

Logo, o exemplo do elástico não é adequado. Teremos ampliado nossas vivências através da nossa plasticidade emocional e tomara que possamos usar esta experiência para melhorar a nós mesmos e o mundo a nossa volta. Ou você prefere ver o elástico arrebentar?

Adriana Vieira, esposa, mãe, consultora, facilitadora e sócia da Move2Up, empresa especializada em treinamento e desenvolvimento humano, com foco em formação profissional, resultados e qualidade de vida. Formada em Propaganda e Marketing pela FMU, Aprendizagem e Gestão do Conhecimento - FGV e agora uma aluna de pós-graduação em neurociências da Santa Casa de São Paulo, afora outros tantos cursos de especialização. Com 28 anos em grandes empresas da indústria farmacêutica, a maior parte deles, se dedicando ao desenvolvimento e preparação de profissionais que hoje ocupam posições de destaque nas empresas que atuam. Seu lema é “O impossível não existe, só depende de nós!”
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