O coração tem razões, que a própria razão desconhece
(faz promessas e juras e depois se esquece…)

Estas palavras fazem parte de uma canção que cresci ouvindo minhas irmãs mais velhas cantarem…
Lembrei-me dela por alguns motivos, diferentes entre si, mas todos eles reportando às promessas.
É engraçado como as pessoas prometem coisas levianamente e depois passada a euforia do momento, voltam atrás como se nunca houvessem dito nada.

Absolutamente, dizem elas, não foi o que quis dizer, você entendeu mal.
Acontece assim com amantes, namorados, políticos, intelectuais e demais pessoas pela vida a fora ou a dentro, já nem sei bem.
Uma vez ouvi da, ainda candidata, Dilma, afirmar com toda certeza que não iria mexer nos impostos. ”Não precisamos de mais impostos”, disse em alto e bom som.

Pois é, logo após a vitória, primeiro discurso como presidente, lá vem à citação da volta da CPMF, com outro nome, claro, de uma maneira eufêmica.
Cansei de ouvir o ex-presidente Lula dizer e desdizer-se pelos microfones que usou pelo país.
Até o Dr. Cooper que apregoava as maravilhas do método Cooper para a saúde, voltou atrás e disse todo “mea culpa” num programa sobre saúde, na TV, que havia se equivocado; a corrida envelhece mais de pressa o corredor, que a simples caminhada.

Lembro-me que quando meus filhos nasceram, as revistas da época sobre como cuidar de bebês, aconselhavam as novas mamães a não segurarem seus filhos no colo, não os ninarem para fazê-los dormir. Nada de canções de ninar. Tudo isso atrapalhava a tranquilidade do bebê.
Eu, mais menina que mulher, lia tudo avidamente, mas não entrei nessa, não. Meu “feeling” me dizia que uma mãe pegar seu filho ao colo, para acarinhá-lo não pode fazer mal algum.

Sentava com eles na rede, e cantava até fazê-los dormir. São inesquecíveis ao meu coração as carinhas que me olhavam e o sorriso que abriam para mim, carregado de ternura, antes de fecharem os olhinhos.
Mais tarde, quando já falavam:
– Canta mamãe, canta! E entravam no sono tranquilo…
Também me lembro que o modismo pediátrico era deixá-los chorar até dormir, que se acostumariam a dormir sozinhos.

Eu contava-lhes histórias, até que o soninho chegasse… De tantas histórias me tornei escritora de histórias infantis. Eu me lembrava de mamãe segurando minhas mãozinhas, quando menina que sentia medo, e estar lá ao meu lado, até eu pegar no sono. E, fazia o mesmo com eles. Foi bom para mim, será bom pra eles, pensava com meus botões… Não demorou muito, mudaram tudo. Ficou o dito pelo não dito. Mas as crianças que serviram de cobaia; perderam, certamente!

A vida é assim. Há coisas que são modismos e a maioria de nós entra nessa, feito marionete. Que coisa é essa que sentimos que nos faz ter essa sede de ir mudando com tudo, entrando na onda, sem fazer juízo de valor, se realmente é isto que nosso coração precisa e quer.
Mudanças são saudáveis. Modismos passam. Há coisas que são para sempre.

Carinho, amor, lealdade, confiança são símbolos de segurança emocional.
Tudo isso ”é vero”, como diz, meu amigo querido, mas o que conta mesmo é a lealdade que você tem com você mesma. Com as coisas que acredita. As coisas que ama. Coisas que lhe aquecem o coração e alegram sua alma.
Ser fiel a si próprio é a mais difícil das tarefas da vida.

Ercília Pollice
Ercília Ferraz de Arruda Pollice reside em Campinas, é formada em Letras pela USC – Bauru, bacharel em Literatura Portuguesa. Escritora, conta com 10 livros publicados, entre eles livros infantis e juvenis, além de inúmeras crônicas e poemas. Integra a Academia Campineira de Letras e Artes e Academia Bauruense de Letras. Foi indicada para o Prêmio Jabuti pela autoria do livro infanto–juvenil “Só, de vez em quando” da Editora FTD. Ercília também é artista plástica catalogada no Cat. Júlio Lousada. Aquarelista, já realizou dezenas de exposições individuais e coletivas em diversos salões e galerias, inclusive em Paris. Alegre, de bem com a vida, adora relacionar-se. Sua preferência é escrever sobre relacionamentos em todas as áreas e níveis. Também tem uma queda por comentar fatos políticos e suas implicações, sempre com bom humor e alguma ironia. Poeta, fala só do amor. Quando escreve faz pinturas de palavras, sua arma maior. Quando pinta faz poemas de cores. Tem 3 filhos, escreveu vários livros e já plantou centenas de árvores. Agora, é desfrutar os bons momentos que a vida sempre oferece àqueles que tem olhos e ouvidos para ouvir e entender estrelas.
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