Violência Sexual. As mudanças que ocorrem na dinâmica de uma família após a revelação de fatos que por tempos ficaram ocultos vem à tona acompanhada de intensas emoções.

Quando ocorre o fato, um dos primeiros sentimentos é o medo. Quais serão as consequências se eu falar para alguém o que acabou de acontecer? Ainda mais sob uma ameaça, uma chantagem. O medo que se sobrepõe pode ser o começo para que tal fato se repita. Se aconteceu uma vez e nada mudou, então… posso repetir. Um segundo sentimento que acompanha o medo é a angustia de alguém lhe forçar a fazer algo que não é de sua vontade e se aproveitar do seu medo para próprio prazer. A angústia de não saber como sair dessa situação aflitiva e conflitante, lhe traz as expectativas e o sofrimento de como gostaria que as coisas fossem, ou ainda, que não fossem.

E se o abuso sexual acontecesse em plena fase da adolescência, período de transições, questionamentos, dúvidas, escolhas, de muitas coisas, mas não a de um contato físico sem a sua permissão. Por alguém da confiança de quem é seu responsável, por aquele que simbolicamente como padrasto, ocupa um lugar de “pai” que pode significar “Protetor”. Como pode o Protetor não lhe proteger de alguém que quer lhe violentar.

O medo gera a suspeita de que sua mãe possa não acreditar; já que por muitas vezes já mentiu e assim como foi seu medo que ela brigasse quando revelou que talvez gostasse de meninas. Mas enfim, um dia foi falado!

É complicado ouvir que ele pode ter sido seduzido por ela, com 8 anos de idade e que se prolongaram por mais longos 4 anos. É horrível a sensação da exposição, quando é sua própria família que conta a situação na escola, vizinhança e para outros familiares distantes. Incomoda ouvir sobre abuso de outras pessoas na TV, ou esse assunto em si.  Entende-se que para mãe há dificuldade em conversar sobre o assunto, principalmente sobre os atos que foram feitos com ela. E aguardando, do delegado que diz que só pode agir quando houver provas concretas.

O ruim é ver na rua seu ex-padrasto, reviver tudo e sentir-se mal. Lembrar que não queria ter aceitado as situações de abuso, foi contra sua vontade, sentia nojo, culpa por nunca ter recusado. Pode ser evitado tendo apenas 8 anos? Acontecia com frequência, inclusive com pessoas na residência. Lembra momentos de tristeza e raiva que a fazem ter pensamentos e atitudes de autoagressão. Quando lembra, se corta com uma “faquinha” no banheiro, nos dias de chuva e no fim da tarde, que é quando recorda dos abusos e sente raiva, próximo ao horário que acontecia.

É irônico quando há consciência que não é para sofrer mais quando o ato foi revelado, mas mesmo assim continua se machucando por sentir-se “suja”. Cobra-se, pois acha que não deveria ter aceitado a chantagem, usada como recurso para impedir que sua mãe soubesse do relacionamento com meninas, pressionando-se que deveria ter tomado atitude antes.

Com a noticia da prisão há ambiguidade: sente-se aliviada e ao mesmo tempo com medo e preocupada por sua segurança. Fato a faz refletir que há escolhas, não precisa se submeter às chantagens, pois medo que a fez se dominar (mãe não poderia saber do relacionamento com meninas), nisso não houve consequências quando declarado, mas com a chantagem sim.

Marcela Eiras Rubio
Graduada em Psicologia pela Universidade São Marcos, Aprimoramento Profissional em Atendimento Interdisciplinar em Geriatria e Gerontologia pelo IAMSPE (Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual) e pós-graduação em Gestão de Pessoas pelo SENAC. Atuações como psicóloga hospitalar no Programa Melhor em Casa do Hospital Municipal Dr. Moyses Deustch – Mboi Mirim, HGIS (Hospital Geral de Itapecerica da Serra) e HRC (Hospital Regional de Cotia). Atualmente atua como consultora em Recursos Humanos na RHF Talentos – Unidade São Paulo.
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