Clemens W. Janssen e seus colaboradores conduziram um estudo muito interessante que foi publicado em 2016 no JAMA Psychiatry. Neste estudo foi testado se a hipertermia aplicada em todo corpo (Whole Body Hyperthermia, WBH) teria efeitos antidepressivos específicos quando comparados com uma condição normal.

Os pesquisadores também avaliaram a persistência dos efeitos antidepressivos de um único tratamento.

Teorias sugerem o cérebro como a única fonte para as doenças mentais. Entretanto, os transtornos afetivos e o transtorno depressivo maior (TDM, ou distúrbio depressivo maior) em particular, podem ser melhor conceituados como transtornos do cérebro-corpo pois envolvem também sistemas periféricos. Tal conceito está baseado no fato de que estudos clínicos mostraram sinais termossensíveis aferentes que podem contribuir tanto para o bem-estar quanto para a depressão. Embora o conceito dos sistemas termorreguladores já esteja estabelecido, principalmente nas funções homeostáticas, evidências crescentes sugerem que as vias neurais responsáveis ​​pela regulação da temperatura corporal podem estar ligadas também aos estados emocionais.

Os caminhos pelos quais a informação térmica é transferida da periferia para o sistema nervoso central reforçam as potenciais ligações entre sistemas neurais sensíveis ao calor e a desordem afetiva. Muitas das regiões do cérebro relacionadas em registrar e reagir a sinais térmicos periféricos mostraram um funcionamento anormal em pacientes com transtornos do humor. As descobertas científicas começaram a preencher a lacuna entre as consequências emocionais e comportamentais ligadas às percepções do calor físico.

Sabe-se que a nossa pele é preenchida com terminações nervosas, sensíveis ao calor, que detectam estímulos externos, como vibração, temperatura e som. As vias termossensíveis que conduzem estímulos da pele para regiões cerebrais específicas podem afetar a atividade neural e o comportamento de maneiras relevantes para o tratamento de transtornos do humor e de comportamento.

Curiosamente, a exposição ao aquecimento cutâneo (41° C) ativa uma determinada região do cérebro associada às avaliações subjetivas de bem-estar em resposta ao calor.3

Outra pesquisa leva à suposição de que o bem-estar em condições de calor é causado pela serotonina e suas vias nas diferentes áreas do cérebro. As alterações da temperatura do ambiente são reconhecidas por sensores especiais na pele, que sinalizam para a medula espinhal e o cérebro.

Janssen e seus colaboradores descobriram que a WBH estava associada a uma redução significativa nos sintomas da depressão com uma semana de tratamento. Melhoria ativa, no entanto, só ocorreu depois das primeiras 2 semanas de tratamento.

Devido ao efeito antidepressivo sustentado e ao perfil de efeito moderado, este estudo concluiu que a WBH pode ser uma alternativa atraente ao tratamento antidepressivo para uma porcentagem de indivíduos com depressão que respondem ao teste antidepressivo, mas que por alguma razão têm restrições ao uso de medicamentos antidepressivos.

De maneira geral, esses achados sugerem que a WBH proporciona alívio rápido e sustentado dos sintomas depressivos por meio da sensibilização de vias fisiológicas importantes, que também afetam as regiões cerebrais implicadas na regulação do humor.

Parece que a termorregulação é um mecanismo filogenético muito antigo e teve forte impacto na sobrevivência do ponto de vista evolucionário. Tratamentos que incluem calor parecem iniciar uma reação de estresse hierarquizada, antiga e de alto nível, com forte impacto na homeostase, ou seja no equilibrio do corpo e da fisiologia humana.


Referencias: Whole-Body Hyperthermia for the Treatment of Major Depressive Disorder A Randomized Clinical Trial. Janssen CW, PhD; Lowry CA, Mehl MR, Allen JJN, Kelly KL, Gartner DE, Medrano A, Begay TK, Rentscher K, White JJ, Fridman A, Roberts LJ, Robbins ML, Hanusch K, Cole SP, Raison CL. JAMA Psychiatry 73(8):789-795, 2016.

Somatic influences on subjective well-being and affective disorders: the convergence of thermosensory and central serotonergic systems. Raison CL, Hale MW, Williams LE, Wager TD, Lowry CA. Front. Psychol 13:1-22, 2015.

Warm pleasant feelings in the brain. Rolls ET, Grabenhorst F, Parris BA. Neuroimage 41 (4):1504-1513, 2008.

Passive Whole Body Hyperthermia in depressed Patients, by Clemens H.W. Janssen and Kay-u. Hanusch. May 2011 at https://www.researchgate.net/publication/255483364_Passive_Whole_Body_Hyperthermia_in_depressed_Patients

Whole-body hyperthermia for the treatment of major depression: associations with thermoregulatory cooling. Hanusch KU, Janssen CH, Billheimer D, Jenkins I, Spurgeon E, Lowry CA, Raison CL. Am J Psychiatry 170(7):802-4, 2013.

Marcus Borges
Dr. Marcus Borges é formado em medicina pela UNICAMP, concluiu a residência Médica em Ginecologia e Obstetrícia pelo CAISM (Especialista em Stem Cells e fertilidade). Com forte experiência internacional trabalhou para a Organização Mundial de Saúde (OMS/WHO) na Alemanha no hospital da RWTH-Aachen, por 3 anos. Mudou-se para os EUA onde finalizou seus estudos na UMDNJ - New Jersey no curso de pós doutorado em perinatologia por 2 anos. Professor adjunto da Ensign College em Utah/USA. Com inúmeras publicações científicas internacionais voltou ao Brasil onde concluiu o curso do MBA pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Forte experiência em saúde da mulher e com inúmeras palestras iniciou seu trabalho na indústria de seguros saúde e depois na indústria farmacêutica multinacional como a Ativus, Merk Serono e na Glenmark como diretor da área médica. Atualmente escreve uma coluna para o portal Plena Mulher, levando maior conhecimento e informação para as mulheres brasileiras.
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