Dois anos atrás, um vestido azul (sim, azul) dividiu famílias e amizades em uma discussão infinita sobre as cores que víamos – ou não – naquela imagem. Agora, um psicólogo japonês criou uma outra ilusão de cores trocando os pixels vermelhos por pixels cinzas em uma foto de uma torta de morango, demonstrando mais uma vez que nossos cérebros têm a palavra final sobre as cores que vemos.

Akiyoshi Kitaoka, da Universidade Ritsumeikan, no Japão, provocou uma tempestade recentemente tweetando uma foto filtrada de uma torta de morango e anunciando que não havia pixels vermelhos na imagem, ao contrário do que poderia parecer.

As pessoas argumentaram que ainda havia matizes vermelhas na imagem, com apoiadores de ambos os lados da história indo para o Photoshop em busca de provas.

Para poupar algum tempo, aqui está uma imagem comparando uma versão não filtrada com a foto de morangos “cinza” filtrada:

Como você pode ver na imagem à direita, os morangos avermelhados são cinza de perto.Como você pode ver na imagem à direita, os morangos avermelhados são cinza de perto.

Constância de cor

Caso você tenha perdido a discussão sobre o vestido em fevereiro de 2015, esses tipos de ilusões são evidências de um fenômeno chamado constância de cor. “Isso ocorre porque nosso cérebro descobre a cor das coisas descontando a cor da fonte de luz”, explica Juno Kim, da Universidade de Nova Gales do Sul, na Austrália, ao site ScienceAlert.

Em outras palavras, o que percebemos como diferentes cores são na verdade diferentes comprimentos de onda de luz entre cerca de 390 a 700 nanômetros.

Em termos mais complexos, diferentes comprimentos de onda fazem com que três tipos de fotorreceptores dentro de nossos olhos enviem sinais únicos ao córtex visual do cérebro, que combina essas informações com outras pistas sobre sua situação para produzir uma experiência que chamamos de cor.

Este é um truque realmente útil, pois permite que o cérebro compense mudanças na luz que poderiam criar confusão.

Por exemplo, a luz solar brilhante em um dia claro contém comprimentos de onda mais curtos que normalmente seriam vistos, como a cor azul, em comparação com a luz produzida por uma fogueira, o luar ou uma lâmpada incandescente num abajur.

Adaptação

Olhar para um objeto sob a luz do sol faz ressaltar mais daqueles comprimentos de onda curtos nos nossos olhos, enviando uma mistura diferente de sinais para nossos cérebros e, teoricamente, produzindo uma experiência de cor diferente da que teríamos à noite.

Em resposta, nossos cérebros evoluíram um talento para perceber quando há luz azul demais e ignorá-la.

“Nosso cérebro calcula toda essa informação para ‘explicar’ a iluminação e, essencialmente, vê o vermelho, o que nos proporciona a habilidade de ver as cores quase de forma invariável através de mudanças nas condições de iluminação, como ao ar livre ou dentro de casa”, diz Kim.

Enquanto Kitaoka efetivamente removeu a maioria das cores mais quentes da imagem, usando um filtro que trocou os comprimentos de onda mais longos para os mais curtos, nossos cérebros parcialmente “desfazem” este processo quando olhamos para ela, removendo os azuis para deixar um vermelho um pouco convincente.

Claro, há mais coisa nos morangos do que apenas sua cor. Também usamos variações de tonalidade para identificar sua textura, dando aos nossos cérebros uma grande dica de que esses objetos parecidos com morangos devem parecer mais vermelhos.

É uma ironia que a melhor maneira de aprender como funciona nosso cérebro é forçá-lo a falhar. Se você é o tipo de pessoa que gosta de enganar o seu senso de percepção, Kitaoka tem muitas outras ilusões para você aqui.


Hypescience – Por: Jéssica Maes

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