Incluir brincadeiras com nossos filhos nas tarefas cotidianas, além de ser uma atividade muito prazerosa, também contribui na construção de vínculos entre pais e filhos.

Para a psicoterapeuta Mônica Pessanha, o cuidado diário pode ser visto como um momento de interação entre os pais e filhos e associado a tempo de qualidade.

As atividades cotidianas relativas aos cuidados com os filhos demandam grande tempo e atenção dos pais e, muitas vezes, acabam sendo vistas por eles como uma “obrigação”. Contudo, é importante que eles consigam perceber que esse tempo de dedicação é uma forma de afeto e que, além de ajudar na construção do elo familiar, pode ser divertido.

“Grande parte dos pais tem dupla jornada, ou seja, atividades dentro e fora de casa. E, muitas vezes, devido a correria, eles acabam não percebendo que momentos singulares do dia a dia fazem muita diferença na vida de seus pequenos. São situações como a hora do banho, o levar e buscar na escola, as refeições – estas, encaradas pelos pais como ofícios, mas que para as crianças são momentos de qualidade com seus pais, pois contribuem para fortalecer o relacionamento entre eles. Essas interações podem se tornar ainda mais leves quando os pais compreendem que são também uma oportunidade de diversão ao lado das crianças”.

O cuidado do dia a dia não é apenas uma maneira de educar o filho, mas é por meio desta constante trajetória que os vínculos afetivos com os filhos são gerados. Por isso, é de extrema importância que haja uma ressignificação sobre o cuidado diário. Neste sentido: “A conexão diária com os pais, além de ser valorizada pelas crianças, é considerada, dentro da Psicologia, um pilar fundamental para o desenvolvimento infantil”.

Brincar é uma das formas para que haja essa conexão, pois subentende que os momentos ao lado das crianças podem ser carregados não só de afeto, mas de magia. “As crianças de hoje são muito ativas e têm enorme poder de decisão ‘nas mãos’ nos diversos momentos do dia, inclusive nos que são considerados deveres. Em contrapartida, muitos pais esquecem que esses deveres podem ser realizados por meio de brincadeiras. Por exemplo, se a criança se recusa a escovar os dentes porque terá que deixar de fazer algo mais divertido naquele instante, os pais podem tentar transformar essa tarefa em algo mais lúdico, a fim de que a criança se sinta mais estimulada para tal atividade”. Ou seja, é fundamental que os pais percebam que o cuidar pode ser repleto de leveza e alegria quando conduzido com brincadeiras, inclusive em ações consideradas como obrigação para ambos.

Outro ponto, que é uma maneira significativa na aproximação com os pequenos é pela alimentação. A comida tem uma relação extremamente afetiva com todos os indivíduos, pois, quando buscamos algo para consumir, na verdade, estamos procurando satisfazer nossas emoções afetivas. A explicação desse sentimento é simples: quando nascemos, o aleitamento é o primeiro ponto de contato daquela pessoa com amor. E, durante toda nossa fase de formação como pessoa, buscamos constantemente sentir aquela emoção e carinho, mesmo que inconscientemente. Por isso, a relação do indivíduo – seja criança ou não – com a comida, vai além do simples ato de se alimentar. Esse é um dos motivos para levar os filhos para cozinha e tornar o vínculo afetivo ainda mais forte, uma vez que este momento está intrinsicamente associado a respeito e carinho.

Sobre este ponto de encontro possível para interação e fortalecimento da conexão entre pais e filhos, que pode ser na mesa ou até mesmo na preparação da lancheira. “Quando os pais preparam a lancheira do filho, podem usar pequenos artifícios para criar esses vínculos, como, por exemplo, escrevendo um bilhetinho para as crianças ou mesmo os convidando para preparar a refeição. Quanto mais os pais envolvem os filhos nessas e em outras atividades, mais vínculos são criados”.

Por fim, aos pais a relevância de trazer a brincadeira para cada atividade relacionada ao cuidado diário. Além de assegurar que as crianças já valorizam cada momento do cotidiano com os pais: “A criança cuidada por meio da brincadeira é mais feliz, pois ela descobre que a felicidade não é um destino, mas, sim um caminho”.


Mônica Pessanha é psicoterapeuta de crianças e adolescentes, mestre em psicologia clínica pela PUC/SP, professora de psicanálise infantil no Instituto Cinco de Desenvolvimento Humano (SP), escritora e palestrante sobre as dificuldades vividas pela família e pela escola. Também é criadora do projeto “Brincadeiras Afetivas”, uma oficina psicoterapêutica que tem como proposta trabalhar a relação do outro com os outros num ambiente lúdico e facilitador. Por meio dessa oficina, mães e filhos têm a possibilidade de transformar o comportamento familiar por meio do aconchego, do acolhimento e compreensão do outro.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *