Todo mundo tem seu lado criativo. Mas há pessoas que sabem usar sua criatividade de maneira mais produtiva.

“No entanto, a quarentena tem esgotado o repertório até mesmo dos mais criativos. Afinal, haja ideias novas todos os dias, seja para entreter os filhos em casa ou espairecer a cabeça com uma atividade diferente. Em um determinado momento, há um esgotamento mental, aliado ainda com as preocupações trazidas pela pandemia”, explica a psiquiatra Dra. Danielle Admoni.

E como funciona o processo criativo?

A criatividade é determinada por processos cerebrais complexos que envolvem a interação entre os dois hemisférios cerebrais. “Foi quebrado o mito de que hemisfério esquerdo é responsável pelo lógico e realista, e que o hemisfério direito, pelo criativo e intuitivo. Praticamente todas as áreas cerebrais estão envolvidas no processo criativo. Mais do que as áreas cerebrais envolvidas, são importantes os circuitos que conectam essas diversas áreas e a forma como eles interagem para produzir tudo o que constitui a nossa mente”.

Há quem pense que o ato criativo surge do “nada”, como um momento de epifania. Não é bem assim. O ato criativo é o resultado final de um processo que se desenvolve desde a elaboração (consciente e inconsciente) até a realização da ideia.

“Uma pessoa altamente criativa é aquela capaz de trazer algo novo ou inusitado, que foge aos padrões habituais já conhecidos. A criatividade depende, em parte, da inteligência, das habilidades e da bagagem cultural da pessoa. No entanto, para aprofundar sua criatividade, é preciso ir além. A pessoa precisa ter um objetivo em mente, um desafio, algo que faça alavancar ideias diferenciadas. Na pandemia, muitos foram obrigados a se reinventar, já que a situação anterior foi toda modificada. Nesse momento, ser criativo se tornou praticamente uma imposição para contornar as adversidades que ninguém estava preparado para enfrentar”.

O desafio de ser inusitado

A estimulação da criatividade começa já na infância, quando se oferece a chance de desenvolver habilidades de modo amplo, diversificado, dando a liberdade de buscar novos interesses e experimentar novas atividades. “Essa abertura a diversas possibilidades permite ter um desenvolvimento criativo mais amplo em comparação a alguém restrito a atividades comuns, limitadas ou repetitivas”.

Desenvolver criatividade depende da ruptura de possíveis padrões rígidos de pensamento já bem estabelecidos, do desenvolvimento do interesse por outros modos de pensar e experimentar, fugindo daquilo que a pessoa já está acostumada. “Muitas vezes, esse desenvolvimento depende de um acompanhamento psicoterápico, uma vez que, frequentemente, a pessoa não consegue por si mesma fazer essa ruptura, esse movimento de liberdade. A boa notícia é que estar aberto ao novo já é um importante passo para se livrar do lugar comum”.


Dra. Danielle Admoni é psiquiatra, especialista pela ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria) e psiquiatra geral da Unifesp.

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