Um dos maiores mitos em relação a saúde é a de que nós precisamos emagrecer para sermos saudáveis. Na verdade, é o total oposto disso, ou seja, nós precisamos ficar saudáveis para emagrecer.

Um corpo com o metabolismo desregulado e seu sistema hormonal desequilibrado, tipicamente reflete em uma pessoa acima do peso e/ou com diversos problemas de saúde, desenvolvidos ao longo do tempo. Desse modo, essa pessoa jamais irá conseguir retomar a boa forma definitiva e uma saúde de ferro, se priorizar somente o ganho de peso e não em se solucionar as causas do mesmo.

Porém, é justamente isso que a maioria das pessoas tenta fazer: iniciar todos os tipos de dietas restritivas e que não atacam o que motiva o ganho de peso, mas sim, tentam mitigar temporariamente as consequências dele, dando uma falsa impressão de que a solução está a caminho.

Recentemente, o Ministério da Saúde divulgou uma pesquisa mostrando que quase metade da população brasileira está acima do peso. Em 2006, 42.7% da população estava acima do peso e em 2011 este número era para 48.5%. (1)

Em se tratando de nutrição, a ciência ainda não sabe absolutamente tudo, porém, tendo estes fatos em mãos se sabe claramente de uma coisa: o que vem sendo feito para tentar solucionar estes problemas, claramente não está funcionando.

A minha opinião, assim como a de uma vertente nova de especialistas de nutrição, é de que o conceito de dieta para perda de peso como praticado hoje em dia está errado em sua própria definição. Dieta hoje é entendida como um esforço temporário onde a pessoa se submete a algum tipo de restrição, tipicamente baseada em um menor consumo calórico e maior atividade física, é o que chamo de paradigma quantitativo do emagrecimento.

Imagem: GraphicMama-team/ShutterstockImagem: GraphicMama-team/Shutterstock

Quando as pessoas entram em uma dieta, elas já estão de olho no final da mesma, afinal, é um “sofrimento” temporário. O grande problema é que as pessoas tipicamente ganham todo o peso perdido e até mais após cada tentativa e isso só piora o problema, dificultando cada vez mais a aparição de resultados promissores nas tentativas de dietas subsequentes.

E se ao invés de ficarmos pulando de dieta em dieta, parássemos por um segundo para entendermos quais as verdadeiras causas do problema do ganho de peso e começássemos a praticar diariamente hábitos que as solucionem definitivamente? E o melhor, e se estes hábitos aplicados no dia-a-dia nos favorecerem com um bem-estar contínuo, resultados claros na frente do espelho e na balança, sem privações dolorosas e sem o temido efeito sanfona?

É neste ponto que conquistamos o maior objetivo para saúde, boa forma e bem-estar, ou seja, transformar a nossa alimentação em um novo estilo de vida que corrige as causas dos problemas, reprograme nosso metabolismo para a queima contínua e natural de gordura e restabeleça o funcionamento normal do nosso sistema hormonal.

Um estilo de vida alimentar correto consiste de 3 pontos basicamente: Alimentação Forte, Flexibilidade e Bem-estar.

Este estilo de vida é baseado no paradigma qualitativo da alimentação, ou seja, de que o emagrecimento e saúde é resultado da qualidade do que comemos e não da quantidade, por isso, este estilo alimentar não se baseia em contagem de calorias, controle de porções ou nenhum controle de quantidade, mas sim no foco total na qualidade dos alimentos ingeridos.

Assim como o médico de Harvard Dr. David Ludwig diz: “A solução [para o emagrecimento] está em mudar O QUE comemos e não o QUANTO comemos.” (livro “Always Hungary)”.

Cada alimento que ingerimos impacta nosso sistema hormonal de forma positiva ou negativa e hoje se sabe que emagrecimento, assim como ganho de peso, é um fenômeno hormonal e não calórico, por isso a qualidade vem antes da quantidade.

Além disso, o ser-humano não foi feito para contar calorias, aliás, o próprio conceito de caloria só passou a existir em 1824, o que é algo bem recente se tivermos em mente os 2.5 milhões de anos da nossa existência.

Eu defendo a opinião de que controle de calorias só se faz necessário se nos alimentarmos dos alimentos agressores que causam o problema da obesidade e outros relacionados a síndrome metabólica. Afinal, quando menos comermos de alimentos problemáticos, melhor.

Agora, quando baseamos nossa alimentação em alimentos colaboradores, aqueles que fazem sentido biológico para nosso organismo e corrigem as causas dos problemas, este controle consciente de quantidades e calorias passa a ser desnecessário.

Outro ponto chave deste estilo de vida alimentar é a flexibilidade. A maioria das dietas por aí falham também por serem rígidas e inflexíveis. Por definição, um estilo de vida precisa ser dinâmico e flexível a ponto de ser adaptável a realidade de cada um, afinal, nada na vida é 100%.

Isso significa é que se durante 80% do tempo você estiver praticando uma alimentação forte, você pode contar com 20% de flexibilidade para sair da linha e curtir os momentos que precisar curtir. É somente com esta flexibilidade adaptável que se torna possível seguir algo pela vida inteira.

Para completar, nenhuma dieta ou estilo de vida alimentar terá sucesso se o foco não for inteiramente em gerar bem-estar contínuo nas pessoas que o seguem. Somente quando regularizamos o nosso organismo, tornando-o mais saudável é que iremos liberar os acessos naturais a gordura armazenada, começar a queimar o excesso naturalmente até atingirmos nosso peso ideal sem risco de efeito rebote. Ou seja, quando o nosso foco primário está em se reestabelecer nossa saúde, o emagrecimento virá naturalmente, o que de fato não acontece quando o foco está no emagrecimento em detrimento da nossa saúde.

É quando você se sente bem, com mais energia e disposição e ao mesmo tempo vê os resultados aparecendo na balança e no espelho, que você é abastecido com a certeza de que você está no caminho certo e com a vontade de continuar seguindo isso para o resto da vida, eis a alimentação como estilo de vida.


Rodrigo Polesso é especialista em Nutrição Otimizada para Saúde e Bem Estar pela Universidade Estadual de San Diego, Califórnia

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