Perda Auditiva: você pode estar ficando surda, sem nem saber. Dados divulgados em 2018 pela Organização Mundial da Saúde mostram que há mais de 460 milhões de pessoas afetadas pela perda auditiva globalmente.

Até 2030, o número deverá chegar a 630 milhões, segundo a entidade. No Brasil, números do IBGE indicam que atualmente são quase 10 milhões de pessoas com algum grau de surdez, sendo que, destes, cerca de 350 mil são completamente surdos.

A surdez induzida pelo ruído responde por cerca de metade dos casos de doenças profissionais registradas no Brasil. Embora o ruído ocorra nos segmentos mais diversos, em várias atividades produtivas, a maior exposição ocorre especialmente nos setores metalúrgico, mecânico, gráfico, têxtil, químico-petroquímico, alimentação transportes.

Quais as causas da perda auditiva?

A audição é danificada por exposição excessiva a sons, desde os aparentemente inofensivos, como o barulho constante das grandes cidades, até os ruídos mais extremos, como o sentido pelos trabalhadores que são expostos à ruídos ou vibrações existentes nos ambientes de trabalho.

Perder a audição com a idade é um processo natural, mas pode variar muito de pessoa para pessoa. A capacidade auditiva dos seres humanos começa a piorar a partir dos 40 anos, sendo que metade das pessoas, a partir dos 80 anos, percebe perda auditiva significativa, conhecida como Presbiacusia.

A perda auditiva pode ter sua origem também em decorrência de traumas na região da cabeça, diabetes, uso constante e indevido de fones de ouvido, entre outras.

Já a perda auditiva por exposição excessiva a ruídos pode ocorrer de forma quase imperceptível, em pessoas que vivem nas grandes e ruidosas cidades, até de maneira mais acelerada, em quem trabalha exposto a muito barulho, como trabalhadores fabris, motoristas e motociclistas, etc.

Segundo a OMS, são consideradas pessoas de audição normal aquelas quem consegue escutar sons de 25 decibéis ou mais baixos nos dois ouvidos. Quem não consegue ouvir sons neste limiar tem algum tipo de perda auditiva.

Decibéis? Como assim?

A medida de intensidade, ou altura, volume do som, é medida em uma escala de decibéis (dB).

Por ser uma escala logarítmica, a intensidade dobra a cada 3 dB. Por exemplo, o som de um aspirador de pó, que tem cerca de 70 dB, é muito mais do que o triplo de uma conversa em altura “natural”, que tem 50 dB.

Na imagem abaixo veja alguns exemplos de intensidade de som em nosso dia a dia, na escala de decibéis:

Tipos de Perda Auditiva

As perdas auditivas são classificadas quanto ao seu tipo (condutiva, sensorioneural ou mista) e seu grau (leve, moderada, severa ou profunda). Os tipos são:

1 – Surdez Condutiva

É reversível e tem sua origem causada por algum problema no ouvido externo ou médio (que conduz o som até o ouvido interno). A cura é possível com cuidados médicos. Este tipo de perda auditiva pode ocorrer por acúmulo de cera no canal auditivo ou por otites, por exemplo.

2 – Surdez Sensorioneural

Origina-se de problemas causados na orelha interna e geralmente é genética e irreversível, mas nem sempre a perda auditiva é completa. A pessoa apresenta dificuldade de entender as variações do som. Em bebês, algumas doenças (rubéola, varíola ou toxoplasmose) ou medicamentos ingeridos pela mãe durante a gravidez podem ser a causa. Já na fase adulta, a meningite, sarampo e caxumba deixam esse tipo de sequelas. Infecções prolongadas e exposição prolongada a volumes altos também acarretam este tipo de surdez.

3 – Surdez Mista

É a combinação dos dois tipos anteriores.

Graus de Surdez

Além de classificadas quanto ao tipo, a surdez é classificada quanto ao grau, que mede a perda auditiva em uma escala de decibéis.

1 – Perda auditiva de grau leve (de 26 a 40 Decibéis)

A palavra é percebida pelo indivíduo como uma sutil dificuldade e leve perda de alguns fonemas.

2 – Perda auditiva moderada (de 40 a 70 Decibéis)

A utilização de prótese auditiva e acompanhamento fonoaudiológico são necessários para suprir dificuldades de comunicação e aprendizagem.

3 – Perda auditiva severa (de 71 a 90 Decibéis) ou profunda (acima de 90 dB)

Não há compreensão da palavra sem fazer o uso da prótese auditiva ou, em alguns casos, do implante coclear.

Fones de ouvido podem causar surdez?

Hoje os fones de ouvido são acessórios “permanentes” para a maioria dos jovens: coloridos, de vários tamanhos, customizados. Porém, infelizmente, eles são uma ameaça real, especialmente para os adolescentes, que fazem uso deles quase sempre de maneira inadequada, com o volume acima do recomendado e por muitas horas seguidas. Os fones de ouvido são considerados muito prejudiciais ao aparelho auditivo porque emitem sons sem barreiras, ou seja, de forma direta para o tímpano.

Segundo otorrinolaringologista Dr. Ely Isaac Mizrahi, o volume máximo dos fones de ouvido não deve ultrapassar 65 decibéis. “Porém, o som dos fones de ouvido dos celulares, por exemplo, pode chegar a 120 decibéis, que é um nível altíssimo, que pode provocar a lesão das células ciliadas da cóclea, o que representa um caminho certo para a perda auditiva precoce”.

Segundo dados da Sociedade Brasileira de Otologia, até 35% dos casos de perda auditiva são consequência da exposição a ruídos diários acima de 85 decibéis, como os emitidos pelos fones de ouvido, que podem provocar danos irreversíveis à audição com o passar do tempo. “Quanto maior é o hábito de ouvir com alto volume, mais rápido surgem os primeiros sinais da perda auditiva, que geralmente se iniciam com o surgimento de um zumbido sutil, logo após o uso dos fones de ouvido”.

Quando é o momento de procurar um especialista?

De acordo com a fonoaudióloga Maira Novello, “a perda auditiva é um problema que acomete muitas pessoas e, por possuir graus leves e moderados, muitos não conseguem identificá-la logo. Com isto, estas pessoas perdem a chance de evitar que o problema se agrave e evolua para uma perda auditiva severa, profunda ou até a total perda da audição”. Por isso, o ideal é que aos primeiros sinais, por mais sutis que pareçam, a pessoa procure um fonoaudiólogo ou otorrinolaringologista, para se certificar do que está acontecendo.

A detecção do quadro clínico é muito importante, pois sem saber que está sofrendo perda auditiva, a pessoa pode se sentir constrangida, frustrada e amargurada.

Um estudo realizado no Canadá, em 2015, mostra que, em média, só após 6 anos do aparecimentos dos primeiros sinais da perda auditiva é que as procuram orientação de um especialista. O mesmo estudo aponta que a perda auditiva gera dificuldades cotidianas que tornam as pessoas mais propensas a desenvolverem depressão e, nos idosos, também demência.


Dr. Ely Isaac Mizrahi é otorrinolaringologista da região de Santa Cecília em São Paulo e Maira Novello é fonoaudióloga do Centro de São Paulo, ambos são parceiros do Nossos Doutores

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